Viagens e Aventuras

Travessia Ruy Braga – Itatiaia – PNI

Em maio deste ano (2011) eu aproveitei um convite para ir até Itatiaia e encarar os dois dias de travessia Ruy Braga, uma travessia que tem parte da trilha do seu segundo dia praticamente fechada pelo pouco movimento. O acesso à trilha passou algum tempo fechado por causa de uma grande erosão em uma encosta no segundo dia de caminhada.

Cheguei em Resende para encontrar o resto do grupo que iria fazer a trilha – Nathalie, Tácio, Alessandro, Paula e Bárbara, além disso junto comigo (peguei carona com eles até Resende) estavam o Requeijo e a Márcia – que eu encontrei aqui no Rio horas antes de colocarmos o pé na estrada. Ficamos hospedados todos no Hotel Avenida, que fica próximo da AMAN e que tem um bom café da manhã e preços que não são salgados.

borboleta mimetismo camuflagem natural

Borboleta de uma espécie que apresenta uma capacidade de mimetismo incrível, uma das belezas do Parq. Nac. de Itatiaia

No dia seguinte acordamos cedo e finalmente todos se conheceram no salão do café da manhã, já que alguns tinham chegado mais tarde. Café da manhã ok, esperamos a van e finalmente conhecemos mais duas pessoas que nos acompanhariam, o Sô Duardo (Eduardo do GEAN) e o filho dele, Eduardo também, que apelidamos de Duardin.

Muito papo de montanha e perrengues na van até chegarmos ao Parque Nacional de Itatiaia. Uma parada para comprar umas guloseimas na estrada e depois de algum tempo estávamos deixando a van na portaria do parque e colocando o pé na estrada de terra até o abrigo do Rebouças. O grupo se ajustou ao ritmos de caminhada de cada um, na frente o Tácio seguia com a Paula, Bárbara, Requeijo e o Alessandro, depois o resto do grupo seguia mais ou menos junto, mantendo uma distância pequena entre as pessoas.

Pico das Agulhas Negras Itatiaia

Pico das Agulhas Negras, visto do caminho

Chegamos ao abrigo Rebouças com o tempo meio esquisito, mas depois de alguns poucos pingos de chuva a coisa toda melhorou. Entramos no abrigo e pude conferir de perto as fotos que o Flávio Varricchio e o Tácio doaram para a decoração do Rebouças, algumas fantásticas. Uma pausa rápida para fotos e uns vídeos e colocamos o pé de novo na trilha que nos levaria até o abrigo Massena, nosso ponto de pernoite no fim deste dia de caminhada.

Abrigo Rebouças, PNI

Abrigo Rebouças, o único abrigo da travessia que não está abandonado

Saindo do Abrigo Rebouças e voltando pra trilha

Saindo do Abrigo Rebouças e voltando pra trilha da Ruy Braga

Essa parte da trilha não apresenta dificuldades, aliás, a trilha toda em si é bem plana, as subidas são bem suaves. A pior coisa desta travessia são os pontos de charco que estão no meio do caminho do primeiro dia e no início da caminhada do segundo dia. Os charcos do primeiro dia são tranquilos e bem simples de contornar, já os do segundo dia merecem uma certa atenção e cuidado – recomendaria inclusive que essa trilha não seja feita em solo, até porque ela não tem muito movimento e caso você fique atolado no charco do segundo dia, e não consiga sair sozinho, isso será um problema bem sério.

Contornar os alagados – quando é possível – não é uma tarefa complicada, basta usar as laterais do charco e ir pisando nas raízes das touceiras. Quando isso não for possível use os bastões de caminhada ou um galho para “testar” a situação do chão na sua frente e ainda assim pise de leve para ver como o charco se comporta com o seu peso.

Chaco na travessia Ruy Braga - segundo dia

Requeijo atolado e com o pé preso por um galho no segundo dia da travessia...

No primeiro dia não tivemos problemas com os charcos. Caminhamos por entre grandes moitas de capim elefante, em alguns pontos isso desorienta bastante também, preste atenção nisso. Paramos para fazer vários lanches no meio do caminho já que estávamos caminhando desde cedo e optamos por almoçar somente no Massena. Antes de chegarmos no abrigo passamos por uma antiga casa em ruínas e paramos por alguns instantes para umas fotos. Saindo de lá fomos até o Massena e encontamos as mochilas do pessoal que foi na frente. Pegamos água, descansamos um pouco e escolhemos o local para montarmos as barracas, aqui cabe uma observação: acampar fora do abrigo é complicado por causa das touceiras de mato fofo que escondem o chão e dificultam a especagem das barracas (além de provavelmente deixarem a noite bem incomoda). A melhor opção é montar as barracas dentro do Massenas ou mesmo bivacar. O problema em bivacar é que parte do abrigo está sem o telhado, em caso de chuvas fortes pode ser uma dor de cabeça…

Abrigo Massena PNI

Foto do interior do abrigo Massena, o que um dia já deve ter sido um ótimo abrigo hoje está largado...

Montamos a nossa barraca – eu e Nath (eu estava na barraca dela) na varanda do abrigo, onde tínhamos o piso e o telhado bons. A noite foi bem tranquila, ventou bastante mas a construção evitou que o vento nos incomodasse. Jantamos na frente da lareira, aproveitando o calor do fogo e a comida quente pra animar o fim de dia, comi um macarrão com frango liofilizado da Liofoods – ótima pedida para adicionar umas proteínas na refeição.

Foto da barraca do Requeijo na varanda do abrigo Massena

Foto da barraca do Requeijo na varanda do abrigo Massena, a nossa estava do outro lado.

Os papos antes de dormir giraram ao redor de equipamentos, notícias sobre montanhismo e afins. Depois de um tempo só o silêncio da montanha e o uivo do vento na madrugada.

No dia seguinte acordamos bem cedo. Eu, Nath e Márcia fomos até a antiga estação de TV, um pouco mais acima do Massena, para ver o nascer do sol. Ventava e fazia um frio que incomodava um pouco. Outra coisa que é bom falar é que no PNI o clima é bem frio, não descuide da roupa técnica (anoraque e fleece), luvas, gorro e saco de dormir.

Nascer do sol na antiga estação de TV pouco acima do Massena

Nascer do sol na antiga estação de TV pouco acima do Massena

Prateleiras, foto panorâmica logo após o nascer do sol

Prateleiras, foto panorâmica logo após o nascer do sol

Fim do espetáculo matinal na antiga estação de TV, fotos feitas, hora de descer para tomar café, desmontar as barracas e começar a caminhada do segundo dia – o dia do tal charco complicado.

Logo depois que saímos do abrigo Massena já demos de cara com um charco menor e logo depois um maior, o primeiro não apresentou problemas para ser cruzado, já o segundo… Algumas pessoas incluindo eu, Requeijo e Márcia, afundaram a perna bem. O Requeijo chegou a ficar com o pé preso em um ganho que estava no fundo do charco. Eu afundei a perna até o joelho. A melhor dica nesta hora é usar uma bota impermeável e se for o caso amarrar um grande saco de lixo em cada perna, para minimizar o estrago… Depois de muita risada e alguns palavrões saímos da parte dos charcos e seguimos por uma trilha que estava com uma fina camada de barro, um verdadeiro sabão… Alguns escorregões e tombos e deixamos essa parte para trás também.

Logo depois deste ponto encontramos uma bela vista do vale e do “rio de pedras” (uma linha que corta o vale e que parece um grande rio de blocos de rocha) e das grandes erosões que passam bem ao lado da trilha e que pedem alguma atenção do caminhante nos pontos onde elas margeiam a trilha bem de perto.

A caminhada continua e um pouco na frente entra em uma área de bambus e de mato mais fechado, ponto onde realmente não existe um caminho definido no chão (foto abaixo). Depois desse trecho a trilha volta ficar mais aberta, passa pelo abrigo Macieira e continua descendo rumo a parte baixa do parque (a trilha termina próximo da cachoeira da Maromba, no posto de fiscalização).

Trilha fechada no segundo dia da Ruy Braga

Parte da trilha se encontra bem fechada no segundo dia de caminhada

Abrigo Macieira PNI

Abrigo Macieira, já na parte final da travessia Ruy Braga

Uma coisa que assusta no PNI é o estado de má conservação – abandono mesmo – dos abrigos que existem nesta travessia – exceto o Rebouças, que está muito bom se comparado com os outros. O parque é barato, porém muito burocrático. O custo para o montanhista é menor que o do PNSO (Serra dos Órgãos, em Petrópolis/Teresópolis).

Tácio foi o primeiro a chegar no ponto final da caminhada, seguido da Paula e da Bárbara, depois o Alessandro, Requeijo, eu e Nath e por último a Márcia com os dois Eduardos (pai e filho). A van demorou um pouco, quando chegou nos arrumamos e partimos de volta para Resende. Fim dessa trip.

Essa travessia é um mérito da Nath, ela ralou durante um bom tempo para conseguir a autorização do PNI que liberava o nosso acesso à travessia. O PNI é um parque lindo com características geológicas incríveis, como a formação do pico das Agulhas Negras, porém ele poderia ser muito melhor aproveitado pelos visitantes se não houvesse tanta burocracia para conseguir uma liberação de acesso. E olha que nosso grupo era basicamente formado por montanhistas e tínhamos um guia do GEAN (o Sô Duardo) conosco… Não éramos turistas sem consciência do que estávamos fazendo ali… Fica o aviso pra as pessoas que desejam conhecer o PNI. Mesmo com esses entraves eu recomendo algumas visitas ao parque pela beleza do local.

Descansando no fim da travessia Ruy Braga

Descansando no fim da travessia, enquanto todos não chegam

Trekker, montanhista, mochileiro e ciclista. Pratica esportes outdoor desde 1990. Apaixonado por equipamentos, fotografia, viagens, ciclismo, cerveja e tecnologia.

7 Comentários

  1. Mario,

    Adorei seu blog, estou examinando-o aos poucos, sou amigo da galera do GEAN e conheço o SoEduardo, fizemos este ano a escalaminhada do Costão da Urca ele é muito técnico e gente fina.

    Tenho muita vontade de fazer essa travessa Ruy Braga, mas não sei se tenho fôlego para aguentar, devo fazer uns treinos.

    Há poucos dias acampei com a gelara do GEAN no Abrigo Rebouças, de uma olhadinha lá no meu blog,

    abs,

    Nilson Soares

  2. Mario,

    nessa viajem vc uso um colchao de ar, colchonete ou só um saco de dormir msm ?

    t + e parabéns pelo site.

  3. Carlos, uso sempre um isolante térmico de EVA e um saco de dormir. Além disso em alguns casos eu uso um liner em conjunto com o saco de dormir ou mesmo sozinho se a temperatura estiver mais amena. Colchão inflável é pesado demais para carregar em uma trilha assim. Seria melhor um isolante térmico inflável. Abraços e obrigado pela visita!

  4. Sobre a temperatura, em que período vocês visitaram? Que tipo de frio pegaram? E em qual altitude? (pergunta de quem é de fora, rsss)

    1. O frio lá é pesado, estávamos a cerca de uns 2100m-2300m no ponto mais alto eu acredito, sinceramente não me preocupei com esta informação. Fomos em maio. Se for pode levar um bom anorak, fleece, luvas e gorro. Abraços!

  5. Olá, belo relato, imagino que a travessia deve ser bem legal, Vc tem o contato da Van? Abrss

  6. André Pinheiro , mario nery ……
    primeiro agradeco o relato que me ajudou a tomar a decisao do inicio …..
    depois fiz a travessia em um dia ja que era meu 3 de caminhanda , vim de maromba na travessia da serra negra e emendei nessa …. fiz com minha filha 12anos , uma amiga de escola 13 anos , minha esposa 39a minha sobrinha 18 a e seu namorado 17a , e eu 40a
    foi demais …. tres dias e duas noites , muito frio pegamos 2graus as 20:30
    no abrigo reboucas
    deixo ai pra voces , no fim de tudo tem o museu do pni
    vejam as fotos dos abrigos em perfeitas condicoes ….. SO QUE TUDO DESMATADO ….
    e agora , tudo em ruuinas e a mata toda de volta com sua vida …. encontrei ate queixadas no caminho …. e logico saimos rapidinho de perto … entao fica o pensamento ate que preco pagar pelo conforto
    ??????
    abraços montanhistas

Deixe seu comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *