Estou devendo a continuação desta série de textos sobre o mochilão que fizemos pela Bolívia em 2011, então vamos lá.
Dia 09 de julho de 2011, chegamos de manhã em La Paz (08h), vindos de uma conexão terrestre feita de madrugada em Oruro – cidade que se destaca pela facilidade nos transportes. Chegamos na rodoviária que fica na subida de El Alto e pegamos um táxi para nos levar até um hostel. Vale a pena mencionar que os táxis na Bolívia não tem um sistema de tarifação certo, ou seja, não existe taxímetro! É parar e perguntar quanto é a corrida até determinado local, aliás pergunte, ou você pode ser surpreendido por algum valor absurdo no final! Outro detalhe importante no quesito segurança: prefira táxis de pontos fixos e com informações de contato, existem relatos de táxis piratas e de agressões e assaltos a turistas que pegaram esses táxis. Nunca vi um caso desses mas é bom saber que já aconteceu e se prevenir.
O motorista nos levou até um hostel que ficava relativamente longe do centro, próximo ao primeiro regimento do exército, perto do cemitério, o que de certo modo foi bom pra me forçar a caminhar por uma parte da cidade que eu ainda não conhecia muito bem. O hostel era o Amália (diárias de 170 bolivianos – no carto de casal, o que daria mais ou menos 25 dólares dividido por duas pessoas – caro na minha opinião de mochileiro), o custo mais alto aliado a distância do centro nos fez mudar de hostel posteriormente – porém vale ressaltar que eles tem um bom serviço, quartos bons e chuveiros quentes, além de wi-fi e guarda de bagagens!
Saímos e fomos a pé até o centro para que eu mostrasse melhor La Paz para Elque e também para passarmos em algumas lojas de equipamentos. Esses dias iniciais seriam de aclimatação para as próximas atividades de montanha que pretendíamos fazer na Cordilheira Real e que não deram muito certo devido a alguns fatores extras… No centro de La Paz, mais especificamente na Calle Illampu ficam as lojas de material de montanha e camping. Aqui é preciso ter cuidado, todas as lojas trabalham com falsificações grosseiras em alguns casos e muito bem feitas em outros… Deuter, North Face e Mountain Hardware são as marcas mais comuns. Comprar equipamentos técnicos, como roupas, barracas e material de escalada somente na Tatoo, a única loja que trabalha com material original. Aliás neste passeio eu passei na Tatoo e acabei voltando com a minha Marmot Earlylight 2p e um canivete Victorinox Climber, nessa primeira ida lá, rsrsrs. Aproveitamos para reservar um hostel simples para usarmos depois de que voltássemos de Copacabana, nosso próximo destino (cidade na beira do Lago Titicaca).
O plano era bem simples, muitas agências e o próprio hostel onde estávamos ofereciam tours até Copacabana, porém queríamos algo que nos desse mais flexibilidade e que nos permitisse encontrar com nossos amigos que estavam indo de Cusco para lá a fim de visitar a Isla del Sol. Como a Isla estava no nosso roteiro também decidimos seguir para Copacabana por conta própria – a melhor coisa neste caso. No dia seguinte (10 de julho) deixamos as mochilas cargueiras no hostel Amália sob guarda e pegamos uma van para nos levar até o cemitério de La Paz, de onde partem os ônibus para Copacabana. Depois tem um causo sobre essa coisa de deixar a mochila cargueira num local e ir para outro…
Pagamos uns 15 bolivianos cada um (mais ou menos 2 dólares) por uma viagem de ônibus de cerca de 3 horas. No meio do caminho o ônibus para para atravessar o lago Titicaca, os passageiros pagam uma taxa de 1,50 Bolivianos para atravessar de barco, enquanto o ônibus segue de balsa. Mais algum tempo de viagem após isso e chegamos em Copacabana. Agora era acertar o básico: comer e definir um hostel, para depois encontramos nossos amigos. Eu já tinha estado em Copacabana em 2009 e tinha ficado num hostel muito bom e barato – o hostel Center que fica em frente a praça onde param os ônibus que voltam para La Paz (plaza 6 de Agosto). Pagamos 30 bolivianos no quarto duplo sem banheiro, por 40 bolivianos teríamos um quarto com banheiro privado, mas se não me engano estavam todos ocupados. O banheiro compartilhado é uma coisa que nós não gostamos muito, mas que não incomodou nesta viagem, porém ficamos somente em 2 hostels assim. A comida era algo fácil em Copacabana também, na Avenida 6 de Agosto estão alguns bons restaurantes. Paramos no El Castillo – descendo a rua quase perto do Titicaca) para comermos uma truta no alho por apenas 25 bolivianos (uns 4 dólares cada prato). Comemos bem…
Encontramos o Jeff e o Renam na praça 6 de Agosto, infelizmente a Mary (esposa do Renam) estava passando mal e ficou no hotel. Jantamos no Jardim Boliviano, outro bom restaurante, mais acima um pouco que o Castillo. Depois do almoço acompanhamos o Jeff e o Renan até o hotel deles e descobrimos que a Mary estava passando mal e tinha sido levada ao posto médico da cidade. Passar mal e na Bolívia não deveria ser algo bom… Acompanhamos a van que foi busca-la no hospital e nos deparamos com um quadro bem diferente do que eu imaginava. Um posto de saúde arrumado e um atendimento muito bom, a Mary gastou cerca de 25 reais e saiu de lá medicada já. Voltamos para o hotel deles e depois fomos pro nosso.
Manhã do dia 11 de julho, lá vamos nós para a Isla del Sol – o berço do império Inca segundo reza a lenda. Uma das vantagens do Hostel Center é que eles já vendem o ticket do passeio para a Isla e lhes dão informações sobre os horários e etc. Tomamos café na rua em frente ao hostel, numa barraquinha bem disputada de uma senhora chola que servia café e pão com algumas opções de recheio, uma das poucas vezes que eu comi na rua sem maiores restrições nesta viagem. Pegamos um barco nas margens do Titicaca e seguimos rumo a ilha, desta vez com a Mary conosco. O passeio na isla funciona assim: você pode descer do barco no lado norte da ilha e cruzar ela a pé até o lado sul; ou pode ficar no barco e ir para o lado sul nele. Quem opta por deixar o barco vai enfrentar uma boa caminhada debaixo de sol e irá pagar cerca de 30 bolivianos (uns 4 dólares) nos pedágios ao longo da trilha. A caminhada vale a pena, refiz ela na companhia do Jeff, já que nossos amigos não quiseram ir conosco, durante a caminhada acabamos batendo um papo com uma menina de São paulo e alguns rapazes do nordeste – Pernambuco mais exatamente. A paulista, Camila, estava viajando sozinha e por acaso estava hospedada no Utama, o mesmo hotel dos nossos amigos paulistas – que oferece uma ótima estrutura.
Depois da caminhada paramos no lado sul da Isla para comer alguma coisa e beber umas Paceñas e voltamos para Copacabana. Deixamos o pessoal de SP na van para Puno e depois eu fui até umas lojas comprar um pequeno tripé para minha câmera, algumas besteiras para comer e uma nova calculadora (a minha tinha quebrado e uma calculadora é fundamental para não se enrolar com o câmbio). Jantamos novamente no El Castillo e passamos mais uma noite no hostal Center, desta vez num quarto com banheiro e TV – aliás o que me faz gostar do Center, além do preço, é o quarto agradável, a localização ótima e o chuveiro quente…
Acordamos, dia 12 de julho, e partimos de ônibus pra La Paz. Passamos esses dias com nossas mochilas de mão, por isso que eu costumo dizer que a mochila de mão deve ser capaz de guardar uma ou duas mudas de roupa e um casaco pelo menos, além de algum lanche, câmera, etc. As nossas cargueiras com todo o nosso equipamento ficaram em La Paz, trancadas no hostel Amália.
Chegando em La Paz partimos para pegar as nossas cargueiras e depois pegamos um táxi até o centro, mais precisamente até o Hostal Señorial, na Calle Yanacocha, nº 540. O segundo hostel que usaríamos sem banheiro privado, mas que seria somente mais um hostel de passagem. Pagamos 35 bolivianos (uns 5 dólares) pelo quarto sem banheiro e sem TV, aliás acho que em termos de espaço esse foi de longe o pior quarto da viagem. Lá fui eu novamente na Tatoo (tarado por equipo é assim mesmo) e dessa vez voltei com um bastão de caminhada da Black Diamond (105 dólares o par), que eu estava pensando em comprar para usar nas montanhas daqui há alguns dias. A Elque passou na farmácia para comprar as pílulas para mal de altitude, as Soroche Pills, uma cartela com 10 comprimidos custa mais ou menos 32 ou 35 bolivianos.
Aproveitamos para fechar os passeios pelo Chacaltaya e pelo Vale de La Luna. Vamos ver como a Elque vai se comportar na altitude e eu vou finalmente conhecer o Chacaltaya, montanha que não conheci na viagem de 2009. Mas esses relatos e as outras aventuras de La Paz ficam para o próximo post!
Hasta, chicos!
Mario,
parabéns pelo site e pelos otimos post. eu pretendo fazer uma viajem assim de mochilão fora do Brasil contudo, não tenho muinta idéia de quanto de dinheiro vou necessitar. sei vc puder nos contar gostaria de saber quanto tempo durou e quanto vc gastou nessa viajem.
T +
abraços.
Marcelo os gastos dependem de pra onde você vai e como vai se hospedar e comer. Em média calcule entre 50 e 100 dólares por dia. No caso da Bolívia se você não for de gastar muito e de se hospedar em locais caros com R$ 50 dólares é possível passar bem um dia. Mas isso é na Bolívia que é um país barato. Em uma viagem de 20 a 30 dias eu costumo gastar uns 1500 dólares, mas isso por que eu acabo comprando equipamentos e fazendo algumas aventuras… Se você for pelo turismo, sem os esportes de aventura e sem gastar com equipos ou presentes consegue economizar ainda mais. Essa viagem do post durou 25 dias. Abraços!
Mario, primeiramente é um belo post! Os detalhes são a parte essencial para quem lê, e o seu esta repleto deles!
Em junho irei realizar um mochilao pelo Chile, Peru e Bolivia, mas tenho algumas duvidas que so quem ja foi é capaz de soluciona-las:
1-Nao conheço a bolívia, gostaria de saber como foi a adaptacao ao soroche, é tranquilo?
2-Meu percurso na bolivia será o seguinte, Copacabana, La Paz, Oruro ai seguiremos de trem para Uyuni. No geral, como é a recepção dos bolivianos aos turistas? Me preocupo no quesito segurança.
Abraço
Ótimas perguntas David, e obrigado pelo elogio! Vamos lá.
A adaptação ao soroche é pessoal e imprevisível, depende do corpo de cada um! Eu por exemplo só me sinto estranho efetivamente após os 5 mil metros… O que pode ser feito para lhe ajudar a não passar mal é:
1. Não ir direto para altitudes altas (problema que não tem como evitar quando você chega de avião em La Paz, o aeroporto de El Alto é bem “alto”).
2. Beba bastante líquido e nada de comidas muito pesadas ou excesso de álcool.
3. Evite esforços desnecessários! Nada de corridas ou memso subir vários lances de escada com pressa!
4. Folha de coca é horrível, mas não é droga e ajuda pacas a aliviar a pressão da altitude, compre um saquinho e masque algumas nos locais mais altos.
Quanto a segurança. Aja como se estivesse em qualquer grande cidade brasileira, ou seja, sem bobear com as suas coisas e mantendo tudo de valor sempre por perto. Evite ostentações, nada de relógios, tênis caros ou jóias. Seja simples! Os bolivianos não são agressivos em geral. Das cidades que você falou as que pedem mais atenção são Oruro e La Paz, em La Paz cuidado especial com El Alto lá existem relatos de assaltos à turistas… E Oruro é bem movimentada por ser uma central de transportes! Mas é só ficar atento e andar sempre com mais alguém. Tem outras dicas aqui no site, dicas específicas para mochilão, tipo essa: https://trekkingbrasil.com//dicas-para-seu-mochilao/
Abs e boa trip. Precisando de alguma info é só avisar!
Olá Mário.
Primeiramente parabéns pelo site.
No post aí de cima você fala em determinado trecho “Depois tem um causo sobre essa coisa de deixar a mochila cargueira num local e ir para outro”, mas não achei esse “causo” em nenhum lugar, e como a curiosidade só faz crescer com a proximidade do meu próximo mochilão, será que rola de você dar umas dicas de como tratar desse assunto tão delicado que é “abandonar” a cargueira num lugar e ir para outro só com a mochila de ataque?
Agradeço desde já a atenção. SAPS.
Abraço,
Badu.
Fala Badu, boa noite. Esse causo eu acabei devendo mesmo, foi o seguinte: eu fui fazer a escalada do Huayna Potosi nos arredores de La Paz e com isso ia ficar uns 3 dias na montanha sem o mochilão, levando apenas as roupas, equipamentos e afins para a ascensão. Deixei a minha mochila no guarda volume do hotel e fui pro gelo. A Elque – minha parceira aqui no TB – ia fazer outras coisas e optamos por deixar a mochila dela também no guarda volumes, assim economizávamos no quarto. Ok. Voltei da montanha e a Elque estava fora ainda. Nossas mochilas tem o mesmo tamanho, a mesma capa de proteção e o mesmo cadeado. Ao chegar no hotel, sujo, cansado e depois de ficar 3 dias com a mesma roupa praticamente passei na recpção e fui pegar a minha cargueira para tomar aquele banho e colocar uma roupa limpa. Ao chegar lá entreguei o papel do guarda volume e a recepcionista me disse que a minha mochila de 75 litros não estava lá… E eu disse: mas é aquela ali ó (que era a da Elque). Aí vc imagina, cansado, sujo e fedorento, querendo um bom banho e agora sem a cargueira (onde estava todo o resto do meu material, roupas, lembranças)… Putoooooo pra caramba e pensando até em apelar pra polícia resolvi subir e ao menos tomar um banho. Desci depois disso já bem preocupado e desta vez fui atendido pelo gerente do hotel, eu relatei o problema e ele me disse: “mas ela não checou o depósito lá de cima?”. Aí eu disse não, somente este espaço aqui atrás… Aí ele: “você pode subir comigo”. Subimos e no depósito de cima lá estava minha cargueira sozinha em um canto da sala… Só aí eu relaxei. Abs! SAPS.