Texto e fotos por Juliana Anverce (Judy), DJ e mochileira.
Nota: Conhecemos a Judy em uma trip nossa pela Bolívia quando nós três passamos o dia no tour do Salar de Uyuni. (Mario e Elque)
Isolamento é o sobrenome desta ilha localizada no sul do pacífico à quase 4 mil Km da costa chilena e mais 4 mil Km da porção de terra habitada mais próxima, o Tahiti. Chamada de Umbigo do Mundo pelo povo Rapa Nui (originais habitantes da ilha), reflete toda a cultura ancestral de uma das civilizações mais antigas do mundo moderno. Povoada pelos polinésios, Páscoa distribui sua história repleta de mistérios nos seus 170 km² de uma terra pobre de recursos naturais, mas rica em cultura e sabedoria.
Visitar a ilha, é muito mais do que descobrir os Moais (as enormes e famosas estátuas de pedra). É também, vivenciar experiências únicas como a subida ao vulcão Rano Kau e Orongo pela trilha de 3Km morro acima, cruzar com cavalos selvagens à beira da estrada, assistir os grupos de dança típica e comer o Curanto, prato da região.
As inúmeras cavernas, de onde se entra por uma entrada principal e sai pelo outro lado, por um buraco minúsculo no chão, é daqueles programas que empolga qualquer desbravador. As maiores, chegam à uma distância de 300 metros de comprimento. Na “Caverna das duas Ventanas”, você pode ainda ter a grata surpresa de se deparar com duas abertura incríveis na rocha que dão para o mar. Em outra ( Ana Kai Tangata) há pinturas rupestres no teto. Não esqueça a lanterna!
Pra quem gosta de praia, Anakena é ideal. Além da água azulzinha do Pacífico propicia a atividades como o snorkeling, conta com um conjunto de Moais que dão um toque especial. Para o surf, o pico é a praia da cidade, Hanga Roa, pertinho da avenida principal. Mesmo sendo o Pacífico, a temperatura da água nem é tão assustadora assim, dá pra encarar numa boa.
A lenda dos Moais
Por muito tempo, o mistério prevaleceu sobre a (im)possibilidade dos nativos Rapa Nui terem levado as enormes e pesadas estátuas até os seus Ahus (plataforma onde elas se encontram). Hoje a teoria mais aceita, é que eles amarravam cerca de duas cordas em cada lado do Moai e com a força de mais ou menos vinte homens e o processo de deslize do pé da estátua, a faziam literalmente andar. Certamente, esse processo levava meses. É interessante lembrar que dentro de cada Ahu, existiam ossadas do falecido líder do clã. Assim, o Moai o representava ao mesmo tempo que protegia a vila. Este é o motivo de eles estarem de costas para o mar (com exceção do Ahu Akivi ao que dizem serem os 7 desbravadores ou astrônomos – o Moai do meio, “olha” exatamente para a posição do sol nos solsticios).
Onde encontrar
Os maiores símbolos da Ilha de Páscoa podem ser encontrados em sua maioria ao redor da costa. Em alguns, é necessário a presença de um guia ou algum nativo para indicar o local exato, já que algumas entradas não possuem placas de sinalização. Os principais Ahus (Tongariki – o conjunto dos 15; Anakena e Akivi – o conjunto dos 7) estão bem demarcados e podem ser encontrados facilmente. Todos os Ahus se encontram longe da cidade, portanto, alugar um carro é essencial, ou, se estiver com as pernas em dia pra pedalar bastante, vale o esforço. As únicas exceções são os Ahus Te Ata Hero, Tautira e Tahai, pertinhos do centro e dá pra ir a pé tranquilamente.
Vulcões
O Terevaka, é um dos pontos mais altos da ilha, de onde pode se ter uma noção do local em quase 360°. Dá pra subir a pé (a partir do Ahu Akivi com trilha de cerca de duas horas) ou a cavalo, com guia. Não tive tempo de subir, mas algumas pessoas disseram ser lindo.
O Poike é o vulcão mais antigo e isolado. Necessário guia, já que não é um local muito frequentado por turistas.
O Rano Kau é sem duvidas o mais famoso. Último vulcão ao entrar em erupção e que deu forma à ilha, possui um lago coberto por uma vegetação na sua cratera. Dá pra chegar de carro ou bike pela estrada, ou a pé, pela trilha de 3km saindo da rua ao lado do aeroporto. Pela trilha, dá pra ter uma bela visão de Hanga Roa e parte da costa.
Rano Raraku
Além de ser um vulcão, Rano Raraku também concentra a famosa fábrica de Moais. Eram lá que os nativos esculpiam as estátuas e depois levavam para seus respectivos Ahus. É possível ver alguns Moais inacabados nas rochas e outros enterrados, apenas com a cabeça para fora. São dezenas deles espalhados pelo chão. Na entrada, vão cobrar o ticket de visitação que pode ser adquirido no aeroporto ou nos principais parques por U$60,00.
Orongo
Logo ao lado do vulcão Rano Kau, está a entrada para Orongo. Assim como Rano Raraku, é necessário o ticket de visitação. Em Orongo, além da aldeia de casinhas de pedra dá pra avistar a ilha para onde partiam os chefes de cada clã para a competição do Homem Pássaro, onde cada um deles tinha que descer o penhasco até o mar, nadar até a ilha e voltar com um ovo intacto da Manutara, ave que só aparecia na região uma vez ao ano. O chefe que ganhasse, governaria a ilha por um ano, até a próxima competição. Ainda existem petróglifos em algumas rochas, porém o acesso é restrito devido à degradação das escrituras.
Te Pitu Kura (o umbigo do mundo)
Escolher uma boa hora pra conhecer o “umbigo do mundo” é essencial (dê preferencia para a hora do almoço, bem cedo ou no final da tarde). O local ferve de turistas loucos pra trocar energias com a famosa pedra. De fato, o poder magnético é indescritível. Basta fazer o teste da bússola que não aponta o norte real (a minha câmera, uma Canon T3 parou de funcionar!). Depois, faça seu ritual energético tocando a pedra e espere para ver o que acontece. Ouvi relatos de gente que saiu zonza.
Hanga Roa
A “capital” Rapa Nui lembra uma tipica cidadezinha do interior e se volta principalmente para sua avenida principal onde se encontram bares, restaurantes, mercadinhos, farmácia e lojas de souvenirs. Mais acima, na rua transversal há uma igreja com santos talhados em madeira onde acontecem missas em Rapa Nui todo domingo de manhã. Há ainda um museu, bancos (Santander e Banco do Estado), corpo de bombeiros e correios, onde você pode marcar seu passaporte com um carimbo com desenhos de Moais. Na paralela a avenida principal está a avenida beira mar onde dá pra encontrar o Ahu Tautira. Seguindo a avenida pela direita dá para admirar uma bela vista do Pacífico, até chegar no Ahu Tahai, famoso pelo seu pôr do sol.
Gastronomia
Tudo na ilha é caro. Dependendo do local, voce pode pagar cerca de R$ 5,00 (convertidos em pesos chilenos) em uma garrafinha d’água. Com a comida não é diferente. Os menus dos restaurantes variam de 10.000 à 20.000 pesos (cerca de R$40,00 R$80,00), onde você pode desfrutar de belos pratos com peixes e demais frutos do mar, até comida italiana e carnes. Se quer economizar um pouco a boa são as empanadas. Com 4.000 pesos é possível matar a fome com uma mega empanada do sabor que preferir e ainda de quebra, tomar um copo de suco de quase um litro bem geladinho. Almocei a iguaria em uma pizzaria na esquina da frente da igreja e não me arrependi. Existem varias barraquinhas perto do campo de futebol que também vendem empanadas, ainda mais baratas. Ou então, recorrer a boa e velha cozinha do hostel e guardar a grana para os passeios. (existem 3 mercadinhos na avenida principal, o mais barato é um que se chama “Supermercado”. Dá pra comprar varias coisas por lá para cozinhar).
*O Curanto é o prato tipico da região e consiste em um peixe com batatas assado na terra com folhas de bananeira. O jantar é servido junto com uma apresentação de dança típica Rapa Nui no restaurante Te Ra’ai. Custa a bagatela de 40.000 pesos.
Hostels e Hotéis
A Ilha de Páscoa conta com uma boa rede hoteleira. Do mais simples ao mais sofisticado, a maioria se encontra na região do centro de Hanga Roa. Eu fiquei no Hostel Kona Tau, da rede Hostelling International. A diária custa em média U$ 35,00 em quarto compartilhado com café da manhã e transfer in e out. O dono, Diego, é super receptivo e ainda é professor de línguas na escola local. Existem outras opções baratas como as cabanas Vaianny e diversos campings.
Contratar guia ou não?
Fechei um passeio full day com um amigo e mais um casal de brasileiros no primeiro dia na ilha. Na manhã seguinte, passamos pela costa conhecendo os Moais até a praia de Anakena, onde almoçamos as famosas empanadas. No período da tarde, fizemos a rota das cavernas. O legal do guia, é que ele sabe exatamente onde te levar, além de contar histórias incríveis, que a maioria não sabe. Depois disso, o Marco Antônio (ou Kako, como é conhecido), virou nosso amigo e fizemos até uma festa de brasileiros em sua casa. Vale ressaltar que ele é um Rapa Nui típico, mas como é casado com uma brasileira, fala português.
E se não quiser… basta juntar uma turma, alugar um carro e fazer o que bem entender. A gasolina na ilha é bem barata e rende bastante. Existem duas locadoras na avenida principal, a Insular e a Oceanic. Pegamos na Insular por 35.000 a diária, um pouco mais barato porque estávamos com o guia. A Oceanic tem preços bons também, basta negociar.
O que não perder de jeito nenhum!
Subir o Rano Kau pela trilha.
Em 1h15 dá pra chegar ao topo numa boa andando em ritmo tranquilo. Bem menos que isso pra descer. O legal da trilha, além da vista de Hanga Roa são os “cachorros-guia”. Eles esperam turistas na entrada e acompanham até o final da descida (inclusive, esperam você tirar fotos e descansar). Assim que o trajeto acaba, eles simplesmente vão embora. Não subestime a sabedoria do caozinho quando bater a dúvida na única bifurcação da trilha. Apenas o siga.
Pôr do sol no Tahai
O Ahu Tahai é geralmente o ponto de encontro de quem quer marcar algo no dia seguinte ou a noite com a galera que acabou de conhecer nos passeios, já que a comunicação por celular por lá é um pouco complicada e o lugar é pertinho do centro. Além disso, tem o pôr do sol mais lindo que já vi. Ver os raios solares penetrarem por entre os Moais é uma cena única. Atenção: o pôr do sol na ilha começa às 20h00.
Nascer do sol no Tongariki
Assim como no Tahai, o nascer do sol no Ahu Tongariki é de um espetáculo imenso. Começa por volta das 8h00 e tem seu ápice 8h40. Dá pra fechar com algum taxista só pra levar, esperar o sol nascer e depois voltar à Hanga Roa. Se alugar uma camionete no dia anterior e tiver a possibilidade, faça o trajeto de volta na carroceria. Garanto que é sensacional.
Assistir o Kari Kari
O Kari Kari é o grupo de dança/musica tipica Rapa Nui mais famoso da ilha. As apresentações custam 10.000 e rolam na avenida principal em um barracão nos fundos de uma casa (tem uma placa de indicação na frente). As apresentações acontecem 3 vezes por semana.
Ver o céu a noite em um ponto mais isolado. Acredito que seja um dos céus mais lindos do mundo. O melhor horário é entre às 2h00 e 3h00 da manhã. Se emocione com a quantidade de estrelas cadentes.
Pra quem quer fazer tatoo…
Muita gente vai a ilha e quer sair com uma marca representando o local. Foi o que aconteceu quando estive, na semana do dia 13 de abril. A procura por tatuagem foi tamanha, que só haviam horários para a semana seguinte. Existem 3 tatuadores (todos localizados na avenida principal) e se quiser, agende assim que chegar. Não faça como eu que deixou pra agendar depois e voltou sem nenhuma tatuagem nova pra casa.
Dicas:
– O “Marau” é uma das únicas “baladas” da cidade. Tem karaokê, Pisco Sour e comida japonesa. Mas acaba cedo, como tudo em Páscoa.
– Jamais confie no clima. Se em uma hora está um sol de rachar, nos próximos quinze minutos pode vir uma nuvem imensa e desabar o mundo. Leve sempre uma capa de chuva ou anorak para os passeios.
– Protetor solar, protetor labial, chapéu/boné e óculos escuros são imprescindíveis, mesmo em dias nublados. A radiação UV na Ilha é altíssima.
– Evite comprar souvenirs na avenida principal. A rua que vai até a igreja tem lojas com presentinhos mais baratos e de igual qualidade.
– A temperatura média não cai mais do que 15° nem no inverno. Não há necessidade de roupas muito pesadas. Casacos medianos resolvem, principalmente a noite.
– Tome cuidado se for levar algum tipo de comida do Brasil. A fiscalização chilena é chata com relação a isso. Se levar, declare tudo, para evitar dores de cabeça e eventuais multas.
– Se precisar passar uma noite no aeroporto de Santiago (as conexões para Páscoa são somente pela manhã), suba até o 3° nivel. Atrás, há bancos onde dá pra dar aquela esticada no corpo e é bastante silencioso.
– Evite comprar o ticket de visitação de Rano Raraku e Orongo fora do aeroporto. Mesmo o preço sendo o mesmo, sempre se corre o risco de não haver tickets para comprar nos parques. Um amigo estava sem e não conseguiu entrar em Orongo porque não estavam vendendo.
– É possível fazer mergulhos na ilha. Algumas agências se encontram perto da avenida principal, indo em direção à praia de Hanga Roa.
E no mais…
Aproveite tudo o que a Ilha tem a oferecer. Conheça os nativos, converse com eles, mergulhe nos passeios e sinta a energia peculiar do lugar mais isolado do mundo. Páscoa sempre tem algo a dizer.
Oi!! Adorei as dicas!! Vou para lá em julho com meu marido e gostaria de saber de tu tem o contato do guia Kako.. não estou achando na internet… obrigada!!!