Se você acompanha grupos de montanhismo ou perfis de pessoas que praticam o esporte provavelmente já deve ter visto alguém falando coisas do tipo: “aqueles caras do filme 14 montanhas, 8 mil metros e 7 meses são loucos! Assistam!”.
O filme é um documentário americano, lançado em novembro de 2021 no Netflix. Uma produção com 1h 41min de duração que conta a história de um time de montanhistas do Nepal em uma jornada para mostrar ao mundo a importância dos nepaleses no cenário da escalada em alta montanha.
O papel fundamental do povo nepalês no Himalaia é mais do que conhecido, porém parece ser minimizado ou deixado de lado por muitos que atingem seus objetivos e se esquecem de como os sherpas foram fundamentais para que àqueles montanhistas chegassem ao cume.
Para quebrar esse “esquecimento” a equipe capitaneada pelo montanhista nepalês Nimsdai Purja (ou Nirmal “Nims” Purja) define uma meta ousada, perigosa e surreal: escalar em até 7 meses todas as 14 montanhas acima dos 8 mil metros.
Trailer do filme 14 Montanhas, 8 mil metros e 7 meses
A equipe de Purja aumentou drasticamente a aposta com o plano de fazer as 14 montanhas em até 7 meses. Seriam duas montanhas acima de 8 mil a cada mês. Pode até parecer simples para quem não conhece esse mundo particular da altitude, mas não é.
Somente 40 montanhistas (até então) tinham feito os 14 cumes acima dos 8 mil metros. Reinhold Messner fez as 14 montanhas, mas ele levou 16 anos para completar todos os cumes.
O recorde mundial era de 7 anos e pertencia, desde 2013, ao sul coreano Kim Chang-ho. Ele fez todos os cumes sem o uso de oxigênio suplementar. Já o time de Nimsdai usou garrafas de oxigênio – um ponto polêmico que costuma ser usado para creditar mais ou menos mérito aos escaladores. Mas essa é uma decisão de quem está lá, com os pés na montanha sofrendo um desgaste físico enorme em uma zona sem oxigênio suficiente para sustentar a vida.

Cume do Manaslu. Foto: reprodução site oficial Nimsdai Purja
Lá em cima o mundo tem regras particulares. O clima, as avalanches, a logística, o preparo físico e a aclimatação atuam juntos para o sucesso ou o fracasso dos montanhistas. E ainda temos as questões burocráticas impostas pelos governos, como o fechamento das montanhas ou as permissões de escalada não concedidas. Sem falar nos custos.
Dito tudo isso, vale entender que este é um filme para quem gosta dos perrengues das altas montanhas. Ele começa lento, por isso mesmo é fundamental que o espectador tenha real interesse pelo assunto.
Essa “lentidão” do filme é deixada de lado quando a equipe de escaladores começa a superar os entraves financeiros, logísticos, familiares, climáticos e burocráticos. O filme fica surpreendente quando eles escalam algumas montanhas em tempo recorde, estamos falando de um 8 mil em 24 horas ou 3 montanhas em 48 horas.
Resumindo, se você é uma pessoa que gosta do tema vale muito reservar um tempo para assistir este filme. E um tempo extra para refletir até onde o ser humano está levando os limites dos ultra desafios de resistência. Algumas décadas atrás a escalada tradicional do Everest era uma coisa absurda (ainda é, obviamente), mas hoje em dia temos estes super humanos capazes de destruir os recordes antigos e estipular um novo padrão absurdo de desempenho físico.
O título original do filme é “14 Peaks: nothing is impossible” (14 Montanhas: nada é impossível). E parece que para esses nepaleses nada é impossível mesmo.
Você pode assistir ao “14 montanhas, 8 mil metros e 7 meses” no Netflix.

O time de escaladores, composto pelos nepaleses: Lakpa dendi Sherpa, Mingma David Sherpa, Geljen Sherpa, Nimsdai Purja, Dawa Sherpa, Walung dorchi Sherpa, e Geshman Tamang. Foto: reprodução site oficial Nimsdai Purja.
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