Viagens e Aventuras

De Teresópolis até a Pedra do Sino

Uma das coisas mais interesantes no montanhismo é permitir uma enorme descoberta pessoal e abrir um leque de possibilidades para a superação de limites e medos individuais. E isso aconteceu na nossa última trilha até a Pedra do Sino, em Teresópolis – Rio de Janeiro.

Não fizemos a trilha com o nosso grupo regular, mas sim com um grupo de adultos que tinham pouca ou nenhuma experiência em trilhas e montanhas. A trilha que sai de Teresópolis e vai até a Pedra do Sino tem cerca de 10 KM de extensão e apresenta um nível de dificuldade que fica entre fácil e moderado.

pedra do sino

Como nosso grupo reunia pessoas com pouca experiência nós já esperávamos chegar no final da trilha fora do horário normal previsto, e assim foi. A trilha foi feita em 10 horas, contra as 5 horas normais. Mas essa demora não representou problema nenhum, afinal de contas partimos bem cedo da base e chegamos com o dia claro no Abrigo 4 – nosso ponto de acampamento. Durante essas 10 horas cada integrante do grupo enfrentou seus problemas problemas físicos e psicológicos e cumpriu o objetivo de chegar até o abrigo. O relato dessa aventura começa agora.

De Teresópolis até a Pedra do Sino, o topo da Serra dos Órgãos

A Pedra do Sino é o objetivo final da Travessia Petrópolis-Teresópolis. Uma montanha com 2263 metros de altitude e que não possui dificuldades técnicas para que se atinja seu cume – não por este caminho. Afinal de contas, é nas paredes desta montanha que estão as vias de escalada mais difíceis do Brasil.

Nosso objetivo era sair da sede de Teresópolis do Parque Nacional da Serra dos Órgãos e chegar até o abrigo 4, pernoitar acampados no abrigo e no dia seguinte subir até o topo do Sino. E em seguida retornar para Teresópolis pela mesma trilha em que subimos.

Saímos cedo da Ilha do Governador, por volta das 04:00 da manhã de sábado (29-08-2009). Com isso chegamos por volta das 06:00 na portaria de Teresópolis do Parque Nacional da Serra dos Órgãos. Como já tínhamos comprado nossos ingressos antecipadamente conseguimos entrar no parque antes das 08:00 da manhã. Preenchemos o termo de responsabilidade e listamos os telefones e nomes dos integrantes do grupo na portaria do Parque. Nossa van nos deixou no final da estrada que sai da portaria e chega até um estacionamento de onde parte a trilha para a Pedra do Sino.

grupo pedra do sino

Fizemos um leve alongamento e revisamos algumas instruções de segurança e comportamento. A trilha se inicia no final de uma rampa de cimento, e seu começo é marcado por um pqueno portão de madeira e por uma placa que indica a extensão da trilha até o Sino e da Travessia Petrópolis-Teresópolis. Neste trecho a trilha é percorrida sobre pedras arredondadas, o que pode causar um acidente nas pessoas que estão mais distraídas, portanto cuidado.

A trilha não apresenta maiores dificuldades para orientação, já que está bem aberta e não possui quase nenhuma bifurcação, com excessão de uma clareira com um grande gramado que possui mais de um caminho. Nesta clareira o caminho correto para continuar a subir está no lado esquerdo de quem chega. É a trilha mais aberta de todas as existentes ali.

Duas coisas que merecem destaque no PNSO são a fauna e a flora. O Parque está repleto de animais silvestres e possui uma diversidade de espécies vegetais muito grande. Isso sem mencionar que temos variações no padrão de vegetação devido as zonas de altitude, começamos a trilha em uma região de floresta e terminanos em uma área de vegetação mais baixa, composta por arbustos, musgos e mato. Essa diferença acontece por causa da altitude e da temperatura, basicamente.

flora pedra do sino

Nosso grupo avançava enfrentando as diferenças físicas de cada um e a superação de alguns medos pessoais por parte de outros. É exatamente este tipo de acontecimento que transforma o montanhismo em um esporte que une as pessoas, pois elas são colocadas a prova tanto fisicamente quanto psicologicamente. Testando limites tanto do corpo quanto da mente, seja pelo esforço da subida ou pelo pensamento de “não vou conseguir chegar”… E isso nos faz pedir ajuda, aprender a compartilhar a dificuldade, etc.

Um dos destaques da trilha é a Cachoeira do Véu da Noiva, que anda meio seca, fraquinha, mais ainda assim consegue chamar atenção e acaba virando ponto de parada obrigatória. Outro ponto, próximo da cachoeira, é uma gruta que tem espaço suficiente para um pernoite com barraca e tudo mais. Essa gruta acaba se tornando uma opção para quem subiu tarde demais ou teve algum problema durante a subida ou descida.

Outro destaque é a maravilhosa vista que a trilha oferece da cidade de Teresópolis e das montanhas da região de Nova Friburgo. Aliás este tipo de visual é que me faz ser apaixonado pelas montanhas… Um dia claro e essa paisagem tiram o fôlego de qualquer um que passe por ali. Uma amostra:

visual da trilha da padra do sino

A trilha vai misturando trechos planos e inclinados, algumas vezes subimos (na maioria das vezes) e em outras até descemos um pouco. Fomos fazendo paradas no caminho e, depois de algum tempo, nos reunimos para almoçar. O grupo aproveitou o momento do almoço e o grande gramado para jogar o corpo maltratado no chão e relaxar os pés um pouco.

E depois do almoço e do descanso recomeçamos a nossa jornada rumo ao Abrigo 4. A cada pergunta de “falta muito?” a resposta era mais ou menos sempre a mesma, “ahh, deve faltar uns 15 minutos! Só mais 15 minutinhos”… E esses 15 minutos se converteram em uma ou duas horas de caminhada… Mas nós já estávamos chegando!

Continuamos subindo e a tarde já começava a se preparar para acabar quando avistamos a Pedra do Sino e o telhado do abrigo, o grupo ficou mais do que feliz ao ver o “ponto final” da aventura. Um dos integrantes ia e voltava do abrigo levando as mochilas daqueles que estavam mais cansados. Excelente atitude, do nosso amigo Santana.

Chegamos ao Abrigo 4 eram quase 16:00 h. Escolhemos o local para montarmos as barracas e começamos a preparar as coisas e as roupas de frio. Lá na Serra esfria muito rápido quando o sol começa a se pôr, e a sensação de frio é maior ainda quando você pára de caminhar. Portanto, a montagem das barracas foi acompanhada pela troca de roupas e pela retirada dos anoraks e fleeces das mochilas. Segundo um fiscal do Ibama que veio conversar conosco, na noite anterior a temperatura tinha atingido -2ºC. Não chegamos a pegar tudo isso na nossa noite, mas tínhamos um friozinho gostoso lá em cima!

Barracas montadas, alguns começaram a se preparar para jantar e eu e o Santana resolvemos correr até o topo da Pedra do Sino para tentar fazer umas fotos do sol indo embora. Mais 15 minutos montanha acima e já estávamos lá, aproveitando os últimos raios de sol daquele dia. Descemos com a ajuda das lanternas de cabeça e fomos jantar. Amanhã era dia de acordar cedo e subir para ver um dos maiores espatáculos desta trilha, o nascer do Sol no alto da Pedra do Sino.

Quando eu saio para alguma montanha onde sei que é possível estar no topo de manhã ou no final do dia eu sempre olho qual vai ser o horário do nascer e do pôr do sol, desta vez eu não olhei. Então na dúvida vamos pelo padrão, o sol nasce sempre entre 05:00 e 05:30 da manhã. Sendo assim, às 04:30 estávamos de pé. Nem todos optaram por subir a montanha. Reunimos aqueles que queriam nos acompanhar e partimos sem pressa para a trilha que vai até o cume da Pedra do Sino. Ao chegarmos lá em cima encontramos algumas pessoas e nos deparamos com a bela vista das montanhas e de um enorme mar de nuvens brancas abaixo de nós. O horizonte ia clareando aos poucos, deixando o escuro da noite para trás e trazendo o amarelo-alaranjado dos primeiros raios de Sol. Aos pouco o céu foi ficando azul claro e tudo ao redor passou a ganhar cores vivas, as nuvens ganharam volume e as montanhas já mostravam suas sombras. Nascia um lindo dia ensolarado na Serra dos Órgãos. A um dia assim consegue ser mais lindo ainda quando visto de cima das nuvens…

nascer do sol pedra do sino

nascer do sol na pedra do sino

Estava na hora de aproveitar o momento por mais alguns instantes, descer, arrumar as coisas e nos prepararmos para encarar os 10 Km de descida até o nosso ponto inicial. Mais algum tempo ali, olhando aquela imensidão, pensando…

Algumas fotos a mais e chegou a hora. Vamos reunir o grupo, descer, encontrar os outros no acampamento e finalizar nossa aventura do final de semana. Chegamos ao abrigo, encontramos o pessoal que ficou por lá, fizemos um lanche e começamos a preparar as coisas para descer. Fui até o abrigo usar o banheiro e me despedir do Lucas, o rastaman que cuida do Abrigo 4. O papo foi párar em um dia conhecer o Aconcágua, enquanto isso pessoas entravam, se despediam e iam. Barracas sendo desmontadas lá fora.

Nos reunimos, tudo já estava guardado. Descemos, mais algumas horas de “tortura” para os joelhos e por volta das 16:00 horas estávamos novamente no mesmo estacionamento onde tudo começou. Todos bem, e com o sentimento de “trilha cumprida”. E assim nos despedimos.

Até a próxima, PARNASO.

Trekker, montanhista, mochileiro e ciclista. Pratica esportes outdoor desde 1990. Apaixonado por equipamentos, fotografia, viagens, ciclismo, cerveja e tecnologia.

1 Seu comentário

  1. Oi Mario!

    Te acompanho no Twitter e hoje passeando pelo seu site, achei este post maravilhoso o qual detém também fotos sensacionais. Nunca fiz essa trilha, apesar de tradicional, porém sinto que deve ser uma sensação indescritível. Parabéns!

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