A Elque, minha amiga de trilhas e chopps, me convidou para participar da última etapa do campeonato carioca de trekking, ou enduro a pé. Trata-se de uma competição semelhante a um rally de carros, só que sem os carros. Os participantes são divididos em equipes de 2 a 6 integrantes e percorrem um circuito definido através de uma planilha de navegação.
A orientação das equipes é feita pela bússola, pelas referências na planilha e pela contagem de passos. Cada equipe tem uma medida de passo que permite com que eles se orientem em relação a distância percorrida. O objetivo da prova é percorrer o circuito com o menor número de falhas dentro do tempo exato e passando por todos os postos de controle. Cada segundo errado conta para a perda de pontos. Vamos ver melhor como isso tudo funciona.
Como funciona uma prova de trekking?
A organização do evento escolhe um local e define o percurso que será feito pelas equipes. Durante esse percurso existem postos de controle onde cada equipe terá seu tempo de prova marcado em um chip que eles carregam. Além destes postos de controle fixos temos também postos de controle virtuais que podem estar em qualquer local da trilha e costumam perguntar aos participantes qual a distância em que eles estão naquele momento em relação ao último trecho percorrido – uma pegadinha matemática envolvendo a contagem de passos…
O posicionamento dos postos de controle não é revelado para as equipes, bem como a ordem deles, que pode ser misturada, isto é, uma equipe pode passar pelo posto 1 agora e depois encontrar o posto 3, o que faria com que eles pensassem que tinham perdido o posto 2, quando na verdade o posto 2 pode estar mais a frente.
A prova é dividida em trechos, não existe parada entre esses trechos, a divisão acontece na planilha de navegação. Cada trecho tem suas medidas marcadas em metros na planilha e junto com as medidas a velocidade média para aquele trecho. Baseados nesses dados as equipes calculam a quantidade de passos necessários para vencer aquele trecho de prova e atingir a próxima referência na planilha de navegação.
A contagem de passos é uma coisa simples, mas fundamental para as equipes. Sem ela fica impossível saber com precisão se já passamos por um determinado ponto ou quanto já percorremos de um trecho. Para saber qual é o “fator passo” de uma equipe basta estender uma trena de 50 mts no chão e pedir que os integrantes caminhem normalmente ao lado dessa trena e contem os passos dados. Depois divida o número de passos pela distância percorrida (50 mts). O resultado será o seu “fator passo”.
A minha equipe (eu e a Elque) tem passos idênticos, o que facilita o andamento. Em 50 metros nos damos 60 passos, com isso temos um fator de passo 1.2. Uma observação rápida, tem gente que conta o passo duplo, nós preferimos usar o passo simples, por que ele evita possíveis erros de contagem. O resultado contando passos simples ou duplos é o mesmo.
De posse do nosso “fator passo” nós sabemos com precisão o quanto teremos que caminhar para vencer, por exemplo, um trecho de 150 mts. Basta multiplicar o trecho pelo “passo”, no caso 150*1.2 = 180 passos. Assim a equipe parte para aquele trecho contando os passos e no final, se a contagem estiver certa, estará exatamente no ponto certo da próxima referência da planilha.
Entendendo a planilha de navegação
A planilha de navegação usada no enduro a pé é a mesma usada nos enduros de carro, conhecida como navegação “tulipa”. Veja um pequeno exemplo:
A planilha é dividida em colunas, cada uma dessas colunas traz uma informação, são elas: distância, referência e observações.
Na coluna distância temos a distância a ser percorrida naquele pedaço da prova. Os valores acima mostram a distância percorrida naquele ponto e os valores abaixo mostram o total percorrido até ali. Note que os totais são zerados em cada “trecho”.
Na coluna referência temos um “mapinha” com referências visuais de onde estamos e uma seta com a indicação de qual caminho iremos fazer.
Na coluna observações temos a medida em graus que será usada pelo navegador para determinar o caminho através da bússola, informações de velocidade média no trecho e outras informações complementares. Note que nesta planilha temos o tempo de prova na coluna observações. Essa é uma planilha do curso de iniciantes, por isso esse tempo está aí, em uma prova oficial ele não existe na planilha. A equipe deve calculá-lo. Para isso basta dividir a distância percorrida no trecho pela velocidade média, ou seja, se a sua velocidade média é de 50 mts/min e você terá que percorrer 200 mts, basta dividir esses 200/50 para descobrir que você levará 4 minutos para fazer este trecho.
Outro detalhe importante, na coluna referência, as bolinhas pretas marcam o ponto onde você está e os quadrados marcam o ponto de referência que foi usado para a medição em graus do rumo ou para o início da contagem de passos. Como você vê melhor abaixo:
Usando a bússola para se orientar e navegar
O uso da bússola é mais simples do que parece. Preferencialmente escolha uma bússola cartográfica, também conhecida como bússola Silva. Este e o melhor tipo de bússola para orientação. Para quem não conhece, esta é uma bússola silva:
Olhando assim a bússola até parece um bicho de sete cabeças, mas sua aplicação nas provas de enduro a pé é simples. Em geral é dado um grau que indica o rumo que a equipe deve seguir. Para localizar este rumo (ou seja, para localizar o que chamamos de azimute) basta alinhar o grau dado com a linha de fé da bússola (a seta vermelha na figura ao lado) e depois alinhar o ponteiro da bússola com a marcação do norte – para alinhar o ponteiro do norte com a marcação do norte na bússola basta ir girando o corpo até que ambos coincidam. Feito isto a direção apontada pela linha de fé mostrará o rumo a ser seguido.
Outra aplicação nestas provas se dá através da indicação de uma direção a ser seguida, algo como: “siga para noroeste”. Assim o navegador da equipe determina o norte – alinhando o ponteiro vermelho da bússola com a marcação do norte no visor) e indica onde está o noroeste (linha média entre o norte e o oeste).
Para quem ficou interessado no uso da bússola aqui estão fontes de informação sobre o assunto que eu encontrei durante uma pesquisa rápida no Google:
– Orientação em geral
– A história da bússola silva
– Como se orientar com uma bússola
– Azimute
Conclusão e links
Provas de enduro a pé podem ser praticadas por qualquer tipo de pessoa, independente do preparo físico. Muitas equipes participam apenas pela diversão. É um esporte barato – a bússola custa em média R$ 20 reais e um contador de passos fica entre R$ 20 e R$ 40 reais. Além disso, ele permite aos participantes conhecer locais que em determinadas situações não podem ser visitados normalmente. Esse último foi o motivo que nos levou a criar a equipe “Atrás da Moita” e nos inscrever na próxima etapa do circuito carioca de trekking. Iremos competir em trilhas dentro do forte de São João na Urca, um local que conta muito da história da cidade e que não pode ser acessado por civis normalmente…
Dia 14 iremos correr pela primeira vez numa prova de trekking. Então fiquem de olho pois teremos muitas fotos do evento aqui no blog. Para quem ficou interessado aqui vão alguns links sobre essas provas:
– Aprendendo a navegar
– Trilha a pé – organização do circuito carioca de trekking
– Campeonato paulista de Trekking
– Portal do trekking
– Campeonato brasileiro de Trekking
– Outros campeonatos estaduais
Gostaria de saber como faço para adquirir cartas topográficas. ola, gostaria de saber a localização de pontos na carta através da bússola
ola! bom dia caro amigo e irmão de trilhas sou iniciante em enduros, trabalho com uma turma de crianças e adolecentes chamados de clube de desbravadores. gostaria de sabe se quando participamos de enduros a pé, se existe uma simbologia marcada ao longo do caminho, como por exemplo indicações de caminho a seguir ou placas indicando alguma coisa no percurso. e os pc é indetificados com placas? valeu me mande uma resposta. obrigado.
Gostaria d participar dos eventos