ATENÇÃO: de um tempo pra cá a região está sofrendo com um acúmulo de lixo deixado pelos turistas – o lixo não vai pra lá sozinho – então se você levou traga de volta e descarte nos locais corretos. Não destrua, ajude a preservar. Ou então um dia deixaremos de aproveitar um paraíso assim por causa da falta de educação de alguns. Tenha consciência!
Mais um convite para uma trip de litoral, desta vez com o pessoal de São Paulo – Carol Emboava (Cozinha na Mochila), Carlos Passini, Jeff Almeida (Piá Ventura), Dani, Lígia e Gui Guedes. O destino era a bela e escondida cachoeira do Saco Bravo, em Paraty. Uma trilha de mais ou menos 8Km de extensão (ida somente) e desnível máximo de cerca de 137 metros – que vai marcar o pesoal por causa dos fatos diferentes que aconteceram…
Saí da rodoviária Novo Rio no Rio de Janeiro por volta das 04:00h da manhã de uma sexta-feira, o ônibus, nem muito cheio nem muito vazio, seguiu viagem rumo ao litoral sul do estado, contornando belas paisagens. Uma viagem tranquila onde eu aproveitei para dormir um pouco, já que não tinha conseguido dormir na noite anterior por causa dos horários… As 08:00h da manhã o ônibus encostou no pequeno terminal de Paraty, desci, comi alguma coisa e comprei água para carregar as garrafas da mochila cargueira. Liguei pra Carol Emboava e perguntei onde eles estavam e quando passariam pela rodoviária para me encontrar, por questões de logística era mais fácil que eu os encontrasse em Laranjeiras, um condomínio fechado onde começa a trilha. Ok, perguntei ao taxista quanto custava a corrida até Laranjeiras e ele me disse que seria uns 70 ou 80 reais, muito caro, vamos de ônibus mesmo! Por sorte o 1040 – que me deixa dentro do condomínio de Laranjeiras – estava de saída. Entrei, paguei R$ 3,00 (bem melhor) e pedi umas informações sobre o tempo até Laranjeiras – que até então eu pensava ser uma cidade, e não um condomínio…
Uns 50 minutos depois eu descia em frente a portaria do Laranjeiras, expliquei pra segurança por que ficaria plantado ali e esperei o pessoal que estava vindo de Ubatuba em dois carros. Cerca de 30 minutos depois chegava o resto do grupo, vamos lá começar a trilha!
Entramos no condomínio e fomos até uma praça sem saída, uma rotatória que é o último ponto do 1040 (pra quem vai fazer a trilha essa é a hora de descer), lá guardamos o carro com a Dona Joaninha, uma senhora falante, pequena e engraçada que aluga duas vagas de garagem na casa dela por 10 reais o dia. Carros estacionados, presentes que eu trouxe da minha trip de Bolívia entregues, hora de por a mochila nas costas e começar a trilha, o início da caminhada está exatamente na rua que sobe pelo lado direto da casa da dona Joaninha.
A trilha não apresenta maiores dificuldades, algumas subidas íngremes e o sol castigam um pouco, nada crítico, ainda assim um bom calçado, água (1 ou 2 litros), filtro solar e um boné, chapéu ou ecohead são recomendados. A caminhada é um misto de morros, florestas e praias. As praias em geral são separadas por morros, a orientação não é complicada, mas em alguns pontos a trilha se bifurca. Existem pontos de água ao longo do caminho, eu caminhei com 2 litros na mochila, mas poderia muito bem ter feito com 1 litro e meio ou até mesmo 1 litro, mas claro que isso varia de pessoa pra pessoa!
A primeira praia é a Praia do Sono, uma praia enorme, com muitos bares e restaurantes rústicos, bem como casas para alugar e pousadas simples – comemos um bom peixe quando passamos pela Praia do Sono na volta. A trilha continua no final da praia, é bem fácil ver a trilha marcada no meio do morro, um caminho de barro escuro, que é um pouco escorregadio e um pouco íngreme, em dias de chuva ou dias após chuvas essa subida será chata. Nesta praia ganhamos uma nova integrante para o grupo, a cadela que batizamos de “Jurupinga” que nos acompanhou pela trip inteira.
Hora de subir o morro, atravessamos o pequeno rio no final da praia do Sono e seguimos pela trilha que sobe e sobe… No topo dela é possível ter uma vista linda da praia do Sono e sua enorme faixa de areia.
Esse morro é a divisa entre a Praia do Sono e os Antigos, a próxima praia do caminho. Continue seguindo pela faixa de areia, a trilha para a praia dos Antiguinhos estará no final da faixa de areia, onde a vegetação aparece mais aberta. Antigos é uma praia tranquila, sem nenhuma estrutura, bem como Antiguinhos. É bom lembrar que não é permitido acampar nas praias, para isso existem os campings e pousadas na Praia do Sono e em Ponta Negra. Antigos é uma praia tranquila e bem vazia, ideal para quem busca um certa paz pra aproveitar a praia.
Mais algumas subidas e descidas e chegamos até Antiguinhos, uma praia pequena. Conhecer Antiguinhos é opcional, já que na verdade a trilha que vai até lá é uma bifurcação da trilha principal. Entre Antigos e Antiguinhos a trilha se bifurca, um lado sobe (esquerda) e outro desce (direita) a trilha da direita leva até Antiguinhos, já a trilha da esquerda que sobre segue para a próxima praia, Galetas ou Galhetas.
Galetas é uma praia rochosa, sem faixa de areia, sua principal atração é a ponte de madeira e cabos de aço que cruza o rio no início da praia. Atravesse a ponte e continue pelas pedras, a trilha aparece logo no final da praia. Agora é só caminhar subindo e descendo até Ponta Negra, uma comunidade de pescadores caiçaras que no nosso caso foi ponto de acampamento nesta trip.
Em Ponta Negra existe luz elétrica de gerador, mas somente para as coisas importantes, portanto não pense em levar algo que precise ser recarregado, pois não existe luz por lá! A praia tem alguns bares e restaurantes simples que funcionam mais na alta temporada, portanto leve sua comida para o tempo que for ficar por lá.
Acampamos num camping que fica logo atrás dos restaurantes, pagamos R$ 10,00 por cada pessoa, com direito a usar um tanque para lavar alguma coisa e encher as garrafas de água e mais dois banheiros, que obviamente não tinham chuveiro quente ou luz. Aliás a falta de luz faz a comunidade inteira dormir cedo, quando escurece são vistas poucas pessoas transitando pelos caminhos do vilarejo – é mais comum ver turistas sentados na areia apreciando o céu estrelado e o som das ondas pequenas quebrando na praia.
Hora de montar as barracas e retirar o peso das mochilas cargueiras, comida, roupas, material de camping e algumas garrafas pequenas de vinho para as conversas ao redor dos fogareiros no jantar… Momentos de boa risadas sempre! Hora também de apanhar um pouco na primeira montagem da barraca nova, a Marmot Earlylight que eu comprei na Bolívia, de um lado eu brigava com a minha e do outro o Gui brigava com a dele. Mas no final das contas deu tudo certo. Barracas montandas era hora de tomar banho frio (detesto) e pensar no jantar. A Carol Emboava como sempre inventou alguma coisa legal para o jantar e tivemos um escondidinho de carne seca com vinho cabernet sauvignon – chique, rapá!
Hora de arrumar a mochila de ataque e dormir, no dia seguinte iríamos até a cachoeira do Saco Braco, uma trilha longa de cerca de 2h e 30 minutos, com uma subida chata no início mas que depois compensa pelo visual do nosso destino. Boa noite!
O dia amanheceu bonito, com poucas nuvens, então vamos para a cachoeira!
O pessoal optou por usar duas meninas da comunidade como guias, já que ninguém sabia exatamente o ponto inicial da trilha entre Ponta Negra e a cachoeira do Saco Bravo (não tem muita informação sobre esta trilha na internet). Passamos na casa das meninas, que saíram de havaianas, calça jeans e com um biscoito e uma maçã – e nós cheios de equipamentos e tecnologias, ah esse povo da cidade! Flávia e Thaiane eram os nomes das nossas guias mirins – 13 e 12 anos, se não me engano… Seguimos perguntando sobre como era a escola, sobre a vida no lugar, etc…
A trilha até a cachoeira do Saco Bravo conta com boas subidas e descidas, não sendo recomendada para pessoas sem experiência em caminhada, sem preparo ou com mais idade. A Cachoeira do Saco Bravo fica espremida entre um morro verde e o mar, um trecho de costa rochosa que só pode ser acessado via trilha e que muitas pessoas que moram em Ponta Negra nunca viram e algumas só viram dos barcos!
Basta descer as rochas até a lage de pedra que forma a piscina natural da cachoeira, cuidado com esta descida, existem trechos que podem ser difíceis para pessoas sem habilidades ou com medo de altura.
Ficamos aproveitando a cachoeira até umas 14 horas creio e depois voltamos para a trilha que nos leva até Ponta Negra. Chegamos cansados mas felizes, hora da Carol nos surpreender novamente, no menu teríamos macarrão com bacalhau, molho branco, tomates cereja e azeitonas pretas… Absurdo! Tudo acompanhado de um vinho! Depois de algum tempo, de uma boa janta e risadas estávamos de novo nas barracas, dormindo.
Hora de retornar e se despedir de Ponta Negra
O dia amanhece claro, bonito, teremos um bom visual na caminhada de volta, mas teremos o sol castigando também. Retornamos rápido, o ritmo de caminhada já tinha sido ajustado e as pessoas já caminhavam mais tempo juntas. Chegamos na Praia do Sono, lugar para fazer duas coisas, devolver a “Jurupinga” – que nos acompanhou em todas as trilhas da viagem; e almoçar um peixe em algum restaurante da praia. Perguntamos aos pescadores onde poderíamos comer já que tudo parecia fechado e eles nos indicaram dois lugares, escolhemos aquele que era justamente a casa da Jurupinga, ou melhor, da “Alexia”, que ficou feliz ao rever seus donos e que ficaram felizes em revê-la, principalmente as crianças! Peixe frito com arroz, salada e feijão foi a escolha do pessoal, eles bebendo limonada e eu no suco de laranja. Restaurante e bar “Raiz Caiçara”, lugar simples mas muito agradável, com pessoas simpáticas, mesas de bambu sobre a areia e toalhas de cangas, recomendo.
Almoço terminado, um pequeno tempo de descanso e lá vamos nós novamente, cruzando a praia do Sono no sentido inverso, ainda acompanhados pela Jurupinga Alexia, que nos deixou no final da praia. Assim fomos rumo a Laranjeiras, para a casa da dona Joaninha onde tudo começou, mas onde tudo não iria acabar!
Da casa da dona Joaninha até a BR101
Depois de pagarmos a guarda dos carros e recolocarmos as coisas nos dois veículos fomos rumo a Ubatuba, eu tinha mudado o meu roteiro, ia aproveitar a carona deles até Ubatuba e de lá voltaria para o Rio de Janeiro, era domingo, umas 15 ou 16 horas. Seguimos em comboio pela BR 101 até a hora em que a Carol sugeriu paramos na Cachoeira da Escada. Ao pararmos notamos que o Niva do Gui estava fazendo fumaça no motor, uma fumaça preta com cheiro de borracha, pensamos que eram as pastilhas de freio, mas quando o Gui abriu o capot nos deparamos com um princípio de incêndio causado por uma mangueira que estava ressecada e partiu, despejando combustível sobre o motor quente!! O Gui pegou o extintor e apagou o fogo, mas já tínhamos alguns problemas causados pelo incêndio, duas mangueiras teriam que ser remendadas ou trocadas, pois derreteram. Começou o processo de reparo do motor, o Gui tem um bom conhecimento de mecânica e está acostumado com alguns perrengues automobilísticos, já que ele trabalha em provas de rally. Ele conseguiu um pedaço de mangueira para remendar as mangueiras derretidas, mas mesmo assim o carro não pegava, alguns fios entraram em curto por causa do fogo…
Da BR101 para Ubatuba e de lá pro Rio de Janeiro
Começamos a pensar nas possibilidades: o pessoal iria de ônibus para Ubatuba ou Paraty, o Gui ficaria com o carro e nós chamaríamos o resgate pelo telefone – já que onde estávamos não tinha sinal nenhum. Eu seguiria de carro com o Carlos e a Carol até Ubatuba ou pegaria um ônibus para Paraty também. Um dado momento surgiu a ideia de rebocar o Niva usando o Fiesta do Carlos, o problema é que não podemos rebocar um carro usando um cabo flexível (uma fita longa) em uma estrada federal… E no meio do caminho de uns 40Km tinha um posto da Polícia Rodoviária Federal… Hummm, vamos parar no posto e pedir ajuda… E assim foi, um Fiesta 1.0 com 3 pessoas rebocando um Niva com 4 pessoas pelas subidas da BR101 entre Paraty e Ubatuba – um ato de bravura do carrinho azul!
Ok, mas quando chegamos ao posto da PRF (faltando apenas uns 10Km) para Ubatuba fomos parados pela polícia e o Carlos acabou levando uma multa por rebocar um carro usando um cabo flexível… Ok, risadas a parte, nosso plano quase deu certo! Estávamos indo sem problemas pela rodovia, criamos um certo engarrafamento é verdade, mas não foi nada demais! E se continuássemos o Gui teria levado o Niva até a garagem da casa dele em Ubatuba!! Mas não deu! Jeff e Dani pegaram um ônibus para Ubatuba na estrada mesmo, correndo! Eu segui com o Carlos e a Carol até a casa do Gui em Ubatuba e ele ficou no posto da PRF com a Lígia para chamar um guincho e levar o carro até Ubatuba.
Eu e Carol paramos na rodoviária de Ubatuba e ela descobriu que não tinha mais ônibus para Taubaté naquele horário… Eu comprei a última passagem do ônibus que saia pro Rio as 23:40h, e que na verdade saiu as 00:00h. Paramos numa gelateria para tomarmos um sorvete (eu, Carol e Carlos). Depois fomos para a casa do Gui e esperamos ele e a Lígia lá, quando eles chegaram a Carol seguiu com o Carlos até Taubaté de carro e eu aproveitei para tomar uma banho na casa do Gui. Fomos comer um açaí e por volta das 23:30 eu estava com ele e a Lígia na rodoviária, o ônibus chegou as 00:00h e finalmente por volta das 06:00 da manhã de segunda um taxi me deixava na porta de casa, morto de cansaço e cheio de histórias para contar… Mochilas jogadas no chão do quarto e eu na cama, fim de viagem. Boa noite pra mim, bom dia pros outros…
Ir a um lugar como este já seria magnífico por si só, agora ir acompanhado de bons amigos, fez desta, uma experiência fantástica.
Olá pessoal.
Muito legal a matéria e imagino que tenha sido muito mais legal ter realizado esse passeio.
Parabéns.
Ricardo
Grande relato!
É curioso como os fatos marcantes dessas aventuras são as coisas que fogem do planejamento. Ver a cachoeira é lindo, a praia, magnífico, mas o que marca é o cachorrinho que apareceu, o enguiço do carro, o tombo do fulano, o amigo que se fez, o aperto que passamos….
Isso me faz pensar que repetir o mesmo passeio nem sempre é enfadonho, porque com certeza o que não estava planejado vai ser diferente.
Abraços
Nuno Pinhel
Cada vez pode ser única Nuno, depende dos fatores inusitados como você mesmo falou! Abraços e bem vindo ao Trekking Brasil!
Muito lindas as paisagens! Parabéns pela aventura!!!
Nada melhor do que estar entre amigos e na natureza!
Que vocês continuem sempre!
Saudações!
quanto tempo levaram de Laranjeiras até o Saco Bravo?
Não fizemos tudo em uma caminhada só. Acampamos em Ponta Negra e só fomos ao Saco Bravo no dia seguinte.
Desculpe, o que quis dizer era o tempo de Laranjeiras até Ponta Negra
Tem um bom tempo que fizemos essa trilha, e caminhamos sem pressa e com paradas em algumas praias. O terreno é simples, a maior subida está no final da Praia do Sono. No mais a trilha é tranquila, só o sol que castiga. Não lembro exatamente em quanto tempo fizemos, mas saímos de manhã e chegamos com muita luz em Ponta Negra, umas 15 ou 16 horas, no máximo.
ha ok, muito obrigado
Muito legal o relato!
Estou planejando visitar a cachoeira do saco bravo. Compensa ficar hospedada no centro de Paraty, Trindade ou em alguma praia específica mais perto?
Olá Isabel, não compensa. O melhor é ficar na Praia do Sono mesmo e de lá você consegue aproveitar todas as outras prias que ficam no caminho para a Cachoeira do Saco Bravo.